quinta-feira, 21 de março de 2013

Música pra Março

O mar crespo carrega lembranças do verão. Sopra arisco o vento que incomoda as marés, o vento que move a estação por rumo incerto. Fica ali, apenas ventando, e a calmaria não arruma espaço pra se acomodar. Desconforto, paralisia, movimentos bruscos em meio às tantas águas pra agitar, tanta coisa pra levar, tanto horizonte a percorrer, ventania. O que? Mais melancolia ao vento, solta como uma folha em branco que confunde os lados quando voa, quando tenta parar. Cogitação hipotética em rumo abstrato. Especulação incerta em devaneio marcado. É o canto do sossego na ventania feroz. Transitório, transações correntes, traslado das folhas que perdem a cor. Outono, laranja, amarelo, distante, constante intriga na temperatura marcante. Intrigante como se dá, deixa estar, tentativa instável. A corrida pro Sol, a fuga das rajadas. A lente que foca a gaivota solitária, silenciosa, espera a corrente passar, a corrente chegar, aguarda o sopro que acaba...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Viagem em um dia frio

Pra quem gosta da Redenção (P. Alegre)


Caminho em busca dos caminhos e trilhas que atravessam a Redenção. As folhas fazem creck e crunch sob meus pés. Uma alegoria sonora para o ritmo arrastado dos meus passos.

Alimento o incomum hábito de procurar conforto e prazer no vento frio e cortante que rasga Porto Alegre no inverno. Não sei se é um vento ou uma alma penada em movimento apenas sei que ele me acaricia…

Sento em um banco de pedra e observo a gélida lâmina d’água do pequeno lago. Percebo o silêncio dos animais no zzzzzzzzzzoo. Ao contrário de mim eles tentam abrigar-se da intempérie.

Eu busco a Redenção em dias assim.

Dias que exigem sobretudo e mãos abrigadas. Dias gelados.

Levanto-me para prosseguir a caminhada.

Lágrimas nos olhos atrapalham minha visão. Prefiro atribuí-las ao vento e ele me contou uma de suas histórias tristes. Baixinho, ao pé do ouvido. Histórias que esta vida de correr por aí o fez presenciar. Era uma história triste e linda, por isso das lágrimas.

Meu corpo me carregou sozinho até meu destino: o recanto Alpino. Minha mente chegou um pouco depois. A simples visão da cabana de pedra me conduz a uma outra viagem.

Fantasias que a imaginação rica de uma criança tatuaram em minha memória. Percorre imagens, viagens, pessoas, saudade até despertar, novamente com lágrimas. O vento. Testemunha. Minhas viagens vieram em palavras. Viraram histórias que vento escutou e em seguida saiu correndo por aí. Ele não sabe guardar segredos.

Foi logo contar para alguém.



(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Pré-outonal

As paineiras já estão floridas. Olhem: estão floridas também as quaresmeiras.

O outono ao Sul é tão gentil que se anuncia com flores. Só nós, os outonais, podemos entender Toulouse-Lautrec. Ele costumava dizer, com sua sabedoria de artista, que o outono é a primavera do inverno.

Sim, ainda está quente. Muito quente, aqui ao Sul.

Mas suportamos esse calor com a visão da natureza, que começa aos poucos a transformar-se. Já é possível perceber algo novo na atmosfera.

Os dias começam a ficar menores. As noites têm seus os astros mais nítidos.

As manhãs são mais solenes, belas e evocativas. Os pássaros já não fazem sua algazarra. Cumpriram seu ciclo, e agora apenas vivem. Há maior silêncio.

O poente sobre o rio, sobre o campo, sobre o cenário urbano, tem alguns matizes mais dourados. São ínfimos, mas perceptíveis. Esqueçam a moda dos óculos escuros, que tudo mascaram. Olhem as coisas como elas são. Só assim será possível notar essas minúsculas e esperançosas variações da luz.

Para perceber tudo isso, porém, não basta possuir a condição humana. É preciso ser diferente; não melhor, mas diferente. É saber contemplar a vida, segundo propõe Baruch Spinoza, sub specie aeternitatis, isto é, sob um ponto de vista que ultrapassa o tempo e as circunstâncias materiais do aqui e do agora. Uma pessoa que olha para o céu de uma tarde que morre e não percebe nada, é possível que tenha outras habilidades, mais solares, mais estivais e meridianas, e vivam alegres assim como são.

Nós, porém, que gostamos dos meios-tons, que somos tocados pelo movimento andante de uma sonata de Mozart, nós temos uma condição diversa. O preço dessa condição é a impossibilidade de sermos felizes sempre e por completo. Nossa felicidade dá-se por momentos como estes, em que descobrimos os sinais, invisíveis para os outros, da bela germinação do outono.

(LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ANTES DAS FLORES

 

ANTES DAS FLORES

 

Alguém que nasceu na primavera

E chegou a viver as quatro estações do ano

Incompleta, as viveu intensamente

Intensidade doada até aos que a conheceram pouco

 

Espelho, abraço no olhar

Reflexo dela no rosto dos que ficam

Gestos se parecem mas escapam logo

Espero, antes das flores

 

Um verão a traz de volta

O outono que renova quase tudo

A estação mais gelada deixou o vazio maior

E a primavera volta em cores vivas

 

Fotografias penduradas

A parede divide e eterniza

Ninguém explica, nem precisa

Ela se faz saber sozinha

 

Leio a frase do dia perfeito

Alguém olhou pro céu enquanto caminhava

A noite adormece sentimentos e pessoas

A calmaria daqui me faz acordar

 

Agora espero as luzes

Distância não é o que mais importa

A calmaria daqui me acorda de um ano

Ficou pela metade entre a saudade e a eternidade

 

 

Marcelo Sorrentino

(Primavera 2009)

 


Instale o novo Internet Explorer 8 otimizado para o MSN. Download aqui

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

H A G E N T T E

BANDA HAGENTTE - 1998 - Jornal

A banda HAGENTTE foi formada em Agosto de 1994, com o nome "Mettal Croma"
Em 1995, mudamos o nome para HAGENTTE que tinha mais a ver com o estilo PopRock, sem metal.

Em 1997 e 1998 gravamos o CD "Nosso Olhar" com 12 músicas próprias em português.
As gravações foram nos estúdios LIVE (Porto Alegre) e ACORDES (Canoas).

A banda "acabou", mas pelo menos 1 vez por ano a gente se reune pra tocar... pura nostalgia...

Se alguém ficou curioso para ouvir o som dos anos 90's é só pedir por e-mail: marcelosorrentinO@hotmail.com

Juliano Forte (Guitarra)
Rodrigo Winck (Baixo)
Paulo Sorrentino (Bateria)
Marcelo Sorrentino (Voz/Violão/Guitarra/Teclado)

Participações:
Jeferson Leonardi (Teclados)
Eduard Follmann (Teclados)

DISCO "Nosso Olhar"
(1998)

Faixas:
01 - Nosso Olhar
02 - QUanto Tempo
03 - Seus Passos
04 - Sereno
05 - Sim ou Não
06 - Livre
07 - Coragem
08 - Se foi
09 - Intuição
10 - Dia Todo
11 - A Noite
12 - Te Peço pra Ficar


Aí vai a letra da faixa "4"...

SERENO

O que não faz sentido
Agora entendo, l
eio esses versos
Nem tudo está perdido
Afinal há sempre um recomeço

A noite cai
O dia vai sumindo
Você não sai
O sereno está tão lindo
Olhar pro céu
E ver que vou sentindo
O Teu olhar
Me lembro e vou caindo

Um coração partido
Se tornou um pouco de saudade
Um pouco quando digo
Mas agora te quero de verdade

Não posso mais te ter
E ter que acreditar
No que foi incorreto
Não quero mais lembrar
As coisas de um passado
Que ainda não passou
Ficar só do teu lado
Não diga que ficou

(1997)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Olhar Perdido

Faz horas que estou aqui
E a porta está fechada
Há dias não te vejo
E meus braços não se abrem mais
Fecho os olhos
O barulho me concentra
Abro a janela
O caminho do azul adentra
Caminho pra saída
O azul de fora, entra
A música da vida
A literatura do sentimento
A calçada de pedras
A rua com ladrilho
Ainda vejo o brilho
Daquele olhar perdido
No mosaico escuro
Com tanta claridade
Pressa pro futuro
No olhar, perseguição
No ladrilho, brilho
Na calçada, o caminho
No azul, a liberdade
Na janela, um sonho
No barulho, a cidade
Agora meus braços abertos
Para os dias que almejo
Na porta certa
Encontrei o olhar
Quero ver de perto
Não fico mais aqui.


Marcelo Sorrentino
Fevereiro 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Outubro (Coisas que Eu Não Faço)

Outubro, caminhando, longe, me vieram à mente essas palavras...
Claro que são pra Vivi...


OUTUBRO (Coisas que Eu Não Faço)

Você espera
Coisas que eu não faço
Você tolera
Eu desgasto
Por onde eu não passo
Meu passo ainda é lento
Caminho contra o vento
Desencontro com o tempo
Pegadas apagadas
Memórias embaçadas
Piso a areia lisa
Meu rosto pálido toca a brisa
Aqui do alto, sombras
Brisa forte, mar em ondas
Romaneio do amanhã
Mar calmo demanhã
No sul, ainda espera
Amor deveras
Queria ter uma vela
Atingir velocidade
Matar toda saudade
E quando tudo passar
Sem pegadas pra apagar
Sigo, ao sabor do vento
Daqui a pouco já é novembro.


(Marcelo Sorrentino)
Outubro 2008